Olá, viajante! Existem vários lugares incríveis espalhados pelo nosso país, e Ouro Preto é um deles. A cidade histórica que já foi capital de Minas Gerais é também um dos maiores símbolos do Barroco, movimento artístico que teve seu auge no século XVIII.
Mas o que tem de tão especial nas igrejas e construções de Ouro Preto? É que essa cidade é história pura, como um grito por independência que ainda ecoa por todos os cantos do Brasil. Ir para Ouro Preto é mais que visitar um lugar, é viajar no tempo!
E é exatamente isso que vamos fazer hoje: viajar através dos séculos numa aventura para descobrirmos as curiosidades de Ouro Preto, no coração de Minas Gerais.
1️⃣ O Barroco em Ouro Preto
O Barroco é um movimento artístico que começou na Europa no final do século XVI. No Brasil, ele foi trazido pelos colonizadores cerca de um século mais tarde. As principais características desse período são o exagero, a riqueza de detalhes e principalmente o contraste.
Entre o claro e o escuro, o bem e o mal, a carne e espírito; o Barroco está sempre colocando o homem diante de um conflito muito maior que ele. É um movimento que se opõe à racionalidade e à estética de seu antecessor, o renascentismo, reforçando a ideia de Deus como o centro do universo.
O Barroco também é uma maneira da Igreja Católica se posicionar contra a Reforma Protestante. Os artistas barrocos foram estimulados pelo clero e pelos nobres a produzirem obras com essa temática.
Por isso, não é de se estranhar que Ouro Preto, símbolo do barroco mineiro, seja uma cidade cheia de igrejas e homenagens religiosas.
*️⃣ Por que Minas Gerais?
No final do século XVII jazidas de ouro foram descobertas em Minas Gerais. Com a queda das exportações de açúcar, a extração do ouro passou a ser a principal atividade econômica do país. Isso fez com que a região se desenvolvesse cada vez mais.
As pessoas foram se estabelecendo em Minas Gerais… enquanto a elite trazia os ideais iluministas da Europa, os escravos trabalhavam duro para cavar as minas que geraram tanta riqueza para os seus senhores e para a coroa portuguesa.
Falando em Minas Gerais, você pode conferir tudo aqui sobre São Lourenço. A estrela do Sul de Minas.
2️⃣ As Minas de Ouro Preto
Ouro Preto é uma cidade de contrastes. Se por um lado ela esbanjava riqueza em suas igrejas ornamentadas em ouro, de outro, os escravos eram massacrados pelos trabalhos nas minas.
Os senhores tentavam evitar o contrabando de ouro, vigiavam os seus escravos constantemente. Como você pode imaginar, trabalhar com mineração não é um trabalho fácil. Muitos escravos morreram sufocados ou afogados dentro das minas de Ouro Preto.
Hoje, algumas delas estão abertas para a visitação, como a Mina de Chico Rei. Diz a lenda que essa mina foi comprada por um escravo liberto, Chico Rei, que foi coroado pelos seus companheiros na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
3️⃣ Vila Rica de Ouro Preto
Muitos viajantes foram tentar sua sorte nos arraiais da região de Ouro Preto, na época chamada de Vila Rica. Esse foi o lugar mais próspero durante o Ciclo do Ouro, e devido à mineração, a região foi se desenvolvendo até se tornar a capital da capitania de Minas Gerais.
Com o rápido crescimento, surgiu a irmandade dos leigos, responsável principalmente por organizar as práticas religiosas e sociais dos centros urbanos. Muitos artistas e artesãos da época foram patrocinados pela irmandade, e a riqueza econômica foi refletida também na riqueza cultural de Minas.
Em terras mineiras, o barroco importado da Europa logo ganhou personalidade própria. Como se já não bastasse ter sua própria expressão artística, Vila Rica também foi palco de grandes acontecimentos históricos.
*️⃣ Inconfidência Mineira
Com certeza você já estudou a Inconfidência Mineira, um marco na história do Brasil. A sede do movimento foi em Ouro Preto, promovido pela elite insatisfeita com a cobrança de impostos da coroa.
Os inconfidentes reivindicavam a independência da região, porém não tiveram a chance de pôr seus planos em prática. A conspiração foi descoberta e resultou na morte e de Tiradentes, que foi enforcado, decapitado e esquartejado.
A cabeça de Tiradentes foi exposta em praça pública em Vila Rica. O plano da coroa era deixá-la apodrecer em público, como um aviso sobre o destino de quem se atrevesse a ir contra o Governo. Mas algum desconhecido tinha planos diferentes, pois a cabeça do inconfidente foi roubada na calada da noite e nunca mais foi encontrada.
A praça onde a cabeça foi exposta, no centro de Ouro Preto, hoje se chama Praça de Tiradentes. É lá que fica o Museu da Inconfidência. O prédio de arquitetura colonial era antes a Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica. Hoje ele é dedicado a preservar a memória dos inconfidentes e da sociedade mineira do século XVIII.
Além dos resquícios dessa história tão marcante, no Museu da Inconfidência você também encontrará obras de importantes artistas brasileiros, como por exemplo…
4️⃣ Aleijadinho e Ouro Preto
Essa é uma das principais figuras da história de Ouro Preto. Nascido Antônio Francisco Lisboa – o Aleijadinho – é considerado o maior artista e arquiteto do período colonial.
Não dá pra falar de Barroco sem mencionar as obras deste artista. O apelido veio devido a uma doença degenerativa que o fez perder os movimentos dos pés e das mãos. Ainda assim, com a ajuda de alguns discípulos, ele continuou a trabalhar.
O Barroco é marcado por obras com temas religiosos, e não é diferente com as obras do Aleijadinho. Suas esculturas mais famosas são Os Doze Profetas (localizada em Congonhas-MG) e a Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência.
Em Ouro Preto, além das obras expostas no Museu da Inconfidência, as fachadas e interiores de igrejas projetadas por Aleijadinho também se destacam. A Igreja São Francisco de Assis foi finalizada por ele, que também fez as esculturas de pedra sabão na sacristia.
A Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição é considerada o marco inicial da cidade. Ela foi projetada pelo pai de Aleijadinho, e os dois foram sepultados nesta igreja. Lá também fica o Museu do Aleijadinho.
5️⃣ Marília de Dirceu e Ouro Preto
Outra figura importantíssima na história de Ouro Preto é o poeta Tomás Antônio Gonzaga. Nascido em Portugal, ele veio para o Brasil para exercer o cargo de Ouvidor de Vila Rica. Aqui, ele se apaixonou duas vezes: primeiro pelo arcadismo, movimento literário que se opunha aos exageros do Barroco, e depois por Maria Dorotéia.
Os dois chegaram a noivar-se, porém, após ser preso por participar da Inconfidência Mineira, Gonzaga foi exilado na África. Sendo assim, ele foi obrigado a abandonar sua noiva em Vila Rica.
Com o pseudônimo de Dirceu, ele escreveu o poema Marília de Dirceu, dividido em três partes. Essa uma homenagem dele à Maria Dorotéia, que na obra é a Marília, e narra tanto sua paixão quanto o seu sofrimento ao ser separado de sua amada.
A Casa de Tomás Antônio Gonzaga é uma atração muito famosa em Ouro Preto. O casarão onde o poeta morou é aberto à visitação, e de lá também dá pra ver a casa de Maria Dorotéia.
6️⃣ Expressões típicas que vieram do Barroco Mineiro
Algumas expressões famosas da nossa língua também nasceram dessa época.
- Com certeza você já ouviu dizer que alguém dissimulado é santo do pau oco. Isso porque algumas pessoas costumavam confeccionar santos de madeira oca para passar pela fiscalização e contrabandear ouro e diamantes. Basicamente, era a sonegação fiscal do ciclo do ouro.
- Outra expressão que surge nesse período é pé rapado, uma maneira pejorativa de se chamar uma pessoa de origem humilde. Historicamente, essa expressão veio de quando as igrejas (principalmente) costumavam ter um lugar onde os visitantes limpavam a lama das solas dos sapatos. Os mais pobres eram os que tinham os pés mais sujos, pois não tinham como se locomover a não ser andando, e os escravos, por exemplo, andavam descalços. Então, ao entrar nos estabelecimentos eles raspavam a sola dos próprios pés para limpá-los.
- Ainda desta época, falavam também em sem eira e nem beira. Essa expressão refere-se a pessoas que não tem avantajadas condições financeiras. Eram consideradas pessoas pobres quando suas casas não tinham aqueles telhados pomposos, com detalhes que saíam para fora do telhado. As casas que não as tinham, eram consideradas casas sem eira e nem beira, ou seja, casa de pobre. São três tipos de detalhes. As eiras, beiras e tribeiras. Cada uma tem seu significado, ligado a poder, cultura e abonança.
- E por último, uma expressão comum, ligada historicamente ao Barroco Brasileiro, o feito nas coxas. Uma expressão geralmente associada a coisas mal feitas, surgiu da época da colonização, onde as telhas de barro eram feitas por escravos, que as mediam em suas próprias coxas para fazer o molde. Assim, cada telha saía de um tamanho e espessura diferente, fazendo com os telhados da época fossem super desalinhados. Essa expressão também pode estar associada a “filho feito nas coxas”, ou seja, uma relação sexual sem penetração, mas que supostamente gerou uma criança. E aí, qual você acha que é a opção que mais faz sentido para tal expressão?
E agora que você já fez uma super viagem história por Ouro Preto e suas heranças culturais, que tal conhecer 9 destinos para viajar de carro por Minas Gerais. Não perca esta leitura, o post está lindo!
E aí, você já tinha imaginado que Ouro Preto tivesse tantas histórias para te contar?
Obrigada pela leitura e até a próxima!
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